A OFERTA DA VIÚVA POBRE Mc 12,38-44
Postado por: Padre Bantu Mendonça K. Sayla
junho 6th, 2009 Somente São Marcos e Lucas 20,45-21,1-4 descrevem a atitude de Jesus perante a pobre viúva que deitou a sua oferta no cofre do Templo de Jerusalém. A Igreja hoje nos faz saborear a riqueza de Marcos.
Lendo o comentário de Jesus poderíamos encontrar muitas dúvidas sem respostas como estas, por exemplo: Então, como é? Essa viúva entregou tudo para o Templo, que corresponde à igreja dos nossos dias, tudo que possuía para viver, e depois? Se ficou sem nada, depois disso foi pedir esmola? Ou terá morrido à fome? É essa a vontade do Mestre? Jesus quer que entreguemos tudo para a Igreja? Não estará esta explicação em contradição com muitas outras passagens em que Jesus mostra a sua preocupação para com os pobres e as viúvas?
Mas é preciso entender bem o que Jesus quis frisar. Primeiro está a situação da viúva. A mulher israelita do tempo de Jesus, era alvo de forte discriminação imposta pela Velha Lei. No Templo não podia ir além do Pátio das mulheres, e não estava de forma alguma preparada para sobreviver economicamente sem o seu marido. Não admira que, em caso de falecimento do dono da casa, se não houvesse filhos, as suas mulheres não estivessem minimamente preparadas para defender os seus direitos no “mundo dos homens” como os negócios, conselhos, tribunais etc. A viúva, se não tivesse pelo menos um filho, que pudesse herdar as terras de seu pai, continuava de certa maneira ligada ao seu falecido marido, e de acordo com Deuteronómio 25:5/10 deveria esperar que algum dos seus cunhados a tomasse como mais uma de suas mulheres em respeito pela memória de seu irmão. Só depois dos seus cunhados a rejeitarem e depois de cumpridos os rituais que constam do texto que mencionamos em Deuteronómio é que ela poderia tentar novo casamento. Assim, a expressão que aparece no texto de Marcos e de Lucas “viúva pobre”, nesse contexto cultural, leva-nos a imaginar uma viúva que não tivesse filhos, nem cunhados que a recebessem, nem quaisquer meios de subsistência.
Pode parecer-nos um tanto estranha a afirmação de Marcos de que muitos ricos lançavam muitas moedas. Na nossa cultura, é natural identificarmos as moedas com as pequenas importâncias, pois para importâncias elevadas, utilizamos as notas ou o cheque bancário. Mas nessa época ainda não havia dinheiro em notas. Só havia moedas que podiam ser em cobre, prata ou ouro, atingindo valores muito elevados.
Depois destes esclarecimentos, já estamos em melhores condições para compreender o pensamento do nosso Mestre. A pobre viúva deu mais do que todos. Não encontramos aqui qualquer palavra de aprovação nem de reprovação da atitude dessa pobre viúva. O pensamento principal, que está na base desta passagem, é a dura crítica de Jesus aos escribas, pela maneira como se apresentavam, acusando-os de “devorarem as casas da viúvas”. Logo em seguida, aparece esta pobre viúva, cuja função é certamente ilustrar a afirmação anterior. É com este “pensamento de fundo” que se deve interpretar a descrição do que se passou com esta viúva, simples exemplo do que certamente se terá passado com muitas outras viúvas. A afirmação de Jesus, de que a viúva deu mais do que todos os outros, vem arrasar toda a velha teologia. É um novo critério que avaliação que não se encontra em todo o Velho Testamento. Que dirá Jesus das nossas igrejas, na Sua segunda vinda? Não nos compete responder. Mas, será que iremos voltar a ouvir coisa semelhante à afirmação do Mestre: Guardai-vos dos escribas que gostam de circular de roupas longas, de ser saudados nas praças públicas, e de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes, mas devoram as casas das viúvas e simulam fazer longas preces. Esses receberão condenação mais severa. Só que, em vez de “escribas”, poderão estar os títulos de outros respeitáveis cargos religiosos dos nossos dias a começar por mim que sou sacerdote, por ti que não sei qual é a função que exerces na Igreja e que agora me segues nesta reflexão. Portanto, acautelemo-nos.