Pelo que posso compreender a partir das primeiras palavras de hoje "depois de ter ouvido isso" chego a conclusão de que a divisão nasceu a partir do ensinamento de Jesus, sem explicitar o motivo exato da discussão. As preocupações comunitárias dos versículos anteriores, a afirmação de Jesus de que ele dá o seu corpo como pão da vida e o fato de que o texto se dirige aos discípulos, indicam que provavelmente foi o discurso eucarístico a fonte de divisão. Porém, a afirmação de Jesus de que ele "dá a vida" e a identificação da sua palavra reveladora com "o pão vindo do céu" na primeira parte do discurso, talvez tenham criado a controvérsia. De qualquer maneira é importante notar que a divisão não se dá entre "os judeus", mas entre os próprios discípulos, muitos dos quais abandonam Jesus neste momento. Será que isso também não acontece entre nós? Quando sem sabermos ao certo o porque das palavras do líder, do pároco ou de quem exerce alguma autoridade na paróquia ou no grupo, começamos logo a criticar e às vezes a sair do grupo de oração, dos ministérios e por aí afora?
É muito interessante a reação de Jesus diante do abandono da maioria dos seus discípulos. Ele não arreda pé, mas com toda calma até convida os Doze para saírem, se não podem aceitar a sua palavra. Jesus não se preocupa com números mas com a fidelidade ao Pai. Talvez até fique sozinho, mas não vai diluir em nada as exigências do seguimento da vontade do Pai. Um exemplo importante para nós, pois muitas vezes caímos na tentação de julgar o êxito pelos números! Igrejas cheias indicam sucesso! Mas nem sempre é assim é mais importante ser coerente com o Evangelho, custe o que custar, do que "fazer média" com a sociedade, às vezes através duma pregação tão insossa, que reduz a religião a um mero sentimentalismo, sem conseqüências sociais.
Mas devemos cuidar de não interpretar erradamente as palavras de Jesus quando diz: "É o Espírito que vivifica, a carne para nada serve". Às vezes usa-se essa frase para justificar uma religião dualista, onde tudo que é "espírito" é bom e tudo que é material é do mal! Aqui João não distingue duas partes do ser humano, mas duas maneiras de viver! A carne é a pessoa humana entregue a si mesma, incapaz de entender o sentido profundo das palavras e dos sinais de Jesus; o espírito é a força que ilumina as pessoas e abre os seus olhos para que possam entender a Palavra de Deus que se pronuncia em Jesus.
Diante do desafio de Jesus, Pedro resume a visão dos que percebem em Jesus algo mais do que um mero pregador. A quem iremos? Pois só Jesus tem as palavras de vida eterna! Declaração atual, pois é moda na nossa sociedade até entre muitos católicos praticantes de correr atrás de tudo que é novidade: supostas aparições, esoterismo, religiões orientais, gnosticismo, escritos apócrifos e tantas outras propostas, às vezes até sem cabimento, enquanto se ignora a Palavra de Deus nas Escrituras.
O texto de hoje nos convida a nos examinarmos, a verificarmos se estamos realmente buscando a verdade onde ela se encontra, ou se a deixamos de lado, achando como a multidão no texto que o seguimento de Jesus "é duro demais"! No meio de tantas propostas de vida, estamos convidados a reencontrarmos a fonte da verdadeira felicidade e da verdadeira vida, fazendo nossa a experiência de Pedro, que descobriu que Jesus "tem palavras de vida eterna". E então, com ele, clamarmos: A QUEM IREMOS SENHOR? SÓ TU TENS PALAVRAS DE VIDA ETERNA!