Hoje escutamos do Senhor: «Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas; [
], não vim para abolir, mas para cumprir». No Evangelho de hoje, Jesus ensina que o Antigo Testamento é parte da revelação divina: Deus, no início, deu-se a conhecer aos homens por intermédio dos profetas. O povo escolhido reunia-se aos sábados na sinagoga para escutar a Palavra de Deus. Assim como um bom israelita conhecia as Sagradas Escrituras e as punha em prática, aos cristãos também convém a meditação frequente diária, se possível, delas [Sagradas Escrituras].
Em Jesus temos a plenitude da revelação. Ele é o Verbo, a Palavra de Deus, que se fez homem (cf. Jo 1,14), que vem a nós para dar-nos a conhecer quem é Deus e o quanto Ele nos ama. O Todo-poderoso espera do homem uma resposta de amor, manifestada no cumprimento dos Seus ensinos: «Se me amais, observareis os meus mandamentos» (Jo 14,15).
No texto do Evangelho de hoje encontramos uma boa explicação sobre isso na Primeira Carta de São João: «Pois amar a Deus consiste nisto: que observemos os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados» (IJo 5,3). Observar os mandamentos de Deus nos garante que O amamos com obras e verdadeiramente. O amor não é só um sentimento, senão que também pede obras, obras de amor, viver o duplo preceito da caridade.
Jesus nos ensina a malícia do escândalo: «Quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar os outros, será considerado o menor no Reino dos Céus» (Mt 5,19). Quem diz: «'Eu conheço a Deus', mas não observa os seus mandamentos, é mentiroso e a verdade não está nele» (IJo2,4).
Também ensina a importância do bom exemplo: «Quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus» (Mt 5,19). O bom exemplo é o primeiro elemento do apostolado cristão. O próprio Cristo cumpria a lei, não para anulá-la, nem para destruí-la, mas para viver em obediência. Jesus instruiu Seus seguidores a observar os mandamentos.
Certa vez um jovem, príncipe e rico, aproximou-se de Jesus e perguntou-lhe: "Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E respondeu-lhe: 'Se queres entrar na vida guarda os mandamentos'". ( Mt 19, 16 e 17).
Jesus advertiu seus seguidores sobre o perigo de menosprezar a obediência a Seus mandamentos. Disse ele: "Nem todo o que me diz Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus" (Mt 7, 21). Não basta, para entrar no Reino do Céu, a confissão verbal. É necessário que se cumpra e que se faça a vontade de Deus revelada. E Jesus deixou isso bem claro.
A verdadeira obediência é fruto do amor. Paulo, escrevendo aos Romanos 13:10, assim afirmou: "De sorte que o cumprimento da lei é o amor". Jesus relacionou de forma muito clara a ligação do amor e da obediência. Em Suas orientações finais aos discípulos, pouco antes de Sua morte, Ele disse: "Se me amais guardareis os meus mandamentos"(Jo 14:15). E "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço" (Jo 15:10). Com essas declarações, Jesus não deixa dúvida alguma com respeito a esse assunto. A obediência genuína tem como fonte geradora o amor. O amor verdadeiro se manifesta por meio de atos de amor pela obediência.
São João, o apóstolo do amor, em I João 5:2 e 3 escreveu: "Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos. Porque este é o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são pesados".
Jesus foi vitorioso em Sua luta contra o pecado, porque estava ligado ao Pai, de quem buscava poder para vencer como humano. Da mesma forma, a vitória de Cristo nos é oferecida! Para que ela seja a nossa vitória, necessitamos estar tão ligados a Jesus, como o ramo está ligado ao tronco.
Ligados dessa maneira a Cristo, produziremos, pelo Seu poder, o fruto da obediência. Somente se permanecermos em Cristo nos será possível prestar obediência de coração, fruto do amor.
Voltando ao Sermão da Montanha, no capítulo 5 de São Mateus, encontramos Jesus apresentando uma dimensão profundamente espiritual dos mandamentos, da lei de Deus. O povo de Israel estivera tão apegado à forma e à letra da lei, que perdera completamente o discernimento espiritual que sustentava e sustenta cada ordenança.
Uma religião legal é insuficiente para pôr a alma em harmonia com Deus. Puramente o fundamento destituído de contrição, ternura ou amor, é apenas uma pedra de tropeço. Os que agiram assim nos dias de Jesus eram como o sal que se tornara insípido. Sua influência não tinha poder algum para preservar o mundo da corrupção.
O povo de Israel perdera completamente a percepção da natureza espritual da lei. Sua obediência não passava de uma mera observância de formas e cerimônias em vez de ser uma entrega do coração à soberania do amor.
As palavras de Cristo, proferidas no sermão da Montanha, conquanto fossem serenas, eram ditas com sinceridade e poder tais que moviam o coração do povo. De pronto se admiravam e percebiam que "ensinava como tendo autoridade".
O Salvador, com Seu divino amor e ternura, exaltava a majestade e beleza da verdade. Com branda, mas profunda influência, os homens eram atraídos para ouvir e aceitar Seus ensinos.
De igual maneira hoje, se olharmos para a lei como um fim em si mesma, nos tornaremos formais, praticantes de uma religião cerimonial destituída de alegria. Mas quando olhamos para a lei e vemos nela algo que aponta nossa necessidade de Jesus, e encontramos n'Ele o Salvador que nos perdoa e nos capacita a viver de acordo com Sua vontade nos tornamos cristãos felizes na mais completa acepção da palavra.
É essa dimensão espiritual que Cristo resgatou em Seus ensinamentos e da qual nós necessitamos para revitalizar nossa vida religiosa.
Pai, livra-me do perigo de reduzir minha obediência aos Teus mandamentos à execução mecânica de gestos exteriores. Revela-me, cada vez mais profundamente, a Tua vontade, como o fez a Jesus. Que Ele seja hoje e sempre o meu exemplo de obediência à Tua Palavra viva na Lei e nos profetas de hoje! Amém!
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Blog do Padre Bantu